Lina Rosa Gomes Vieira da Silva é uma figura de destaque quando se fala em infância, cultura e educação no Brasil. Como uma das vozes mais ativas no grupo nacional de trabalho Cultura Infância, ela construiu uma trajetória pautada pela defesa dos direitos culturais das crianças, entendendo a infância não apenas como uma fase da vida, mas como um território de experiências, linguagens e expressões legítimas.
Sua estreia na literatura com o livro Bichos Vermelhos não poderia ser mais coerente com sua atuação: ela escreve para o público que mais conhece — as crianças —, e aborda justamente um dos temas que mais a desafia — a preservação ambiental. Mais do que um livro, sua obra é uma extensão de sua militância cultural e sensibilidade poética. Confira!
Como um tema urgente se transformou em literatura para crianças?
Tratar da ameaça à fauna brasileira sem pesar a mão no discurso alarmista é uma tarefa difícil — especialmente quando o público é infantil. Lina Rosa Gomes Vieira da Silva, no entanto, consegue esse equilíbrio com surpreendente naturalidade. Sua linguagem é leve, cheia de humor e poesia, mas não perde a seriedade que o tema exige.
Ao apresentar espécies ameaçadas da fauna brasileira em textos breves, cativantes e lítero-informativos, ela convida as crianças a olharem com curiosidade e afeto para animais que muitas vezes nem sabiam que existiam. É um chamado ao cuidado que se dá pelo encantamento, não pelo medo. Um gesto literário que forma futuros leitores e futuros defensores da natureza ao mesmo tempo.
De que forma Bichos Vermelhos responde ao cenário ambiental brasileiro?
Em um momento crítico para o meio ambiente no Brasil, em que os desmatamentos, os incêndios florestais e os desastres ambientais revelam a fragilidade dos nossos ecossistemas, Bichos Vermelhos chega como uma obra atualíssima. Lina Rosa Gomes Vieira da Silva não escreve em um vácuo: ela está atenta ao noticiário, à ciência e aos movimentos socioambientais.
O livro, portanto, é também uma tomada de posição. Como diz Rosana Mont’Alverne uma das responsáveis pela edição do livro, é hora de tomar partido — o partido da natureza. Ao colocar a biodiversidade em destaque para as novas gerações, a autora forma não apenas leitores, mas cidadãos conscientes e preparados para lidar com os desafios ambientais que já não podem mais ser ignorados.
Por que o livro representa mais do que um produto cultural?
Bichos Vermelhos é um gesto de resistência. Em um mercado editorial cada vez mais pressionado por modismos e algoritmos, lançar um livro impresso, com foco na experiência tátil, com conteúdo lítero-informativo e poético, é uma atitude ousada. Ao unir literatura, ciência, arte e sensibilidade em um único projeto, Lina Rosa Gomes Vieira da Silva entrega uma obra que se opõe à lógica do consumo rápido e do esquecimento fácil.
Se sua estreia já foi marcante, Lina Rosa Gomes Vieira da Silva promete ser uma das vozes mais instigantes da literatura infantil contemporânea. Sua trajetória anterior como gestora, articuladora cultural e pensadora da infância já indicava a solidez de sua visão. Agora, com Bichos Vermelhos, ela confirma sua capacidade de transformar ideias em literatura e preocupações em beleza compartilhável.
É de se esperar que ela continue trilhando um caminho em que literatura, infância e mundo caminhem juntos. Ela escreve com a escuta afiada de quem conhece as crianças e com o coração disponível de quem acredita que a arte pode, sim, provocar mudanças — mesmo que com a delicadeza de um livro de papel.
Autor: Bruce Petersons